O Fórum Cidadania Lx tem vindo a alertar para a
necessidade de protecção de muito do património de Lisboa que se encontra em
risco, seja por ameaças concretas, seja por se encontrar no limbo que é a
incerteza do seu futuro quando vacante. É o caso da mais emblemática das
padarias do
nosso Bairro das Colónias, sita no gaveto da Rua de Angola, 1 com a Rua de
Moçambique, 23-b, à Praça das Novas Nações.
Constituído por um grupo de cidadãos empenhados, o Fórum
Cidadania Lx desde 2008 tem vindo a apelar para que a Câmara Municipal
de Lisboa classifique esta padaria, exemplar único, do melhor que a art déco produziu por cá enquanto espaço
comercial no seu todo, ao nível dos estuques relevados do tecto, pavimento de
lioz com cercadura de calcário de várias cores, balcão em três tons de mármore
e expositor de lioz e, em particular, ao nível da azulejaria, produzida na
desaparecida fábrica Lusitânia de Lisboa.
Na sequência dos seus alertas foi publicado um artigo no Solonline, no passado dia 20, e ontem passou uma
reportagem no noticiário da SIC, às 13 h. Nesta reportagem, para além de um
membro do referido Fórum Cidadania Lx, Ana Alves de Sousa, que integra
igualmente a Comissão de Moradores do Bairro Azul – bairro com grandes
afinidades com o nosso- e conhecida activista na área do património construído,
foi
também entrevistado um representante da Comissão de Moradores do nosso bairro,
Isaac Almeida.
Instalada num edifício projectado em Maio de 1933 pelo
Eng. Pedro Nunes, que é também autor dos seus interiores e mobiliário, ambos
concluídos em Janeiro do ano seguinte, a padaria manteve-se intacta até aos
dias de hoje, sempre em actividade.
Propriedade da PREGAL - Padarias Reunidas da Graça e Alfama, com sede na
Avenida do Brasil nº 43 - 1º Dto, a padaria, de súbito, em 1 de Novembro
passado, encerrou portas para remodelação, segundo informação afixada nas
montras, em nome do progresso. Supostamente por imposição da ASAE que obrigaria
à existência de um balcão frigorífico. Se assim foi, o que todos questionamos é
se é este o modelo de progresso que interessa à cidade e ao seu património,
porque em relação à saúde pública não há notícias de envenenamentos, doenças ou
mortes por os balcões das padarias antigas serem de mármore. Que diriam os
franceses, se lhes retirassem as suas baguetes embrulhados em papel de jornal,
ou os alemães que nos governam e cuja capital mantém inúmeros espaços que
segundo a Lei que por cá se aplica tão aguerridamente, seriam irremediavelmente
fechados.
Todavia, segundo relatos de pessoas cá do bairro, o verdadeiro
motivo de encerramento terá sido outro que não a imposição da ASAE. A padaria
terá sido encerrada pela má gestão da firma que a detém, que não soube fazer face
aos custos de manutenção e aos fracos lucros, agravada pela saída, por reforma,
da empregada que tinha ordenados em atraso.
Infelizmente não é caso único, embora do ponto de vista
patrimonial intrínseco seja o mais relevante. Também a padaria da Rua do Forno
do Tijolo, nº 26B-26C, com as suas paredes pintadas com paisagens, balcões e
prateleiras de mármores, lambris de azulejo (liso e relevado) e pavimento de
mosaico hidráulico marmoreado, fechou portas silenciosamente. Na montra, um
cartaz anuncia estar à venda.
Ainda subsiste a padaria da Rua do Forno do Tijolo 46 - B, igualmente art
déco, com o seu balcão, bancadas e lambris, tudo de mármores a duas cores, pavimento
com dois tipos distintos de calcário, em zig-zag, tectos com estuques relevados
e demais elementos de época, intacta para delícia de muitos clientes e turistas
que a fotografam.
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