Empresas
ligadas à venda ou aluguer de imobiliário, principalmente o tubarão Remax, tem
vindo a apostar numa estratégia agressiva junto dos moradores em áreas centrais
que, de repente, passaram a ser apetecíveis do ponto de vista turístico. É o
caso do Bairro das Colónias onde o airbnb
e outras formas de alojamento local passaram a estar presentes em muitos, cada
vez mais, dos condomínios e prédios de rendimento.
A
Remax, não satisfeita com uma primeira forma de pressão - a sistemática
colocação de folhetos nas caixas de correio, interrogando se não estamos interessados
em vender andares -, adoptou mais recentemente o mesmo estratagema de várias
religiões (ou seitas duvidosas), o porta-a-porta.
Sim,
não vos queremos aqui a viver. Sim, a periferia é excelente para habitar. Sim,
os lares estão caros e estarão muito melhor por lá.
Percebemos
demasiado bem que não nos querem a habitar no centro da cidade, esse é para os
turistas que trazem dinheiro e fazem desenvolver a economia local a consumir typical cuisine (e todos sabemos que a
gastronomia tradicional é diversificada: paellas
congeladas; massa - disparate, pasta;
hambúrgueres, pastel de bacalhau com queijo….), a passear de tuk-tuk, a viajar de
eléctrico, (sobretudo o 28, o 12 ou o 15 - para nada verem e entupindo qualquer
possibilidade dos nativos andarem neste transporte), ou a utilizar os
elevadores (Santa Justa, Glória e Bica – o Lavra ainda se vai conseguindo).
Nada contra, não fora a massificação e o excesso.
O
airbnb tem vindo a contribuir para a destruturação das comunidades locais. As
relações de vizinhança desaparecem e a desumanização do espaço urbano, antes de
cooperação vicinal e intergeracional, transforma-se num território desolado
onde impera a animação momentânea e ruidosa dos grupos que estão ali apenas
para cumprir o ritual de se divertirem, fugindo às regras mais restritivas dos
seus entediantes países de origem. Há sempre excepções, claro!
A
incompatibilidade de horários e de expectativas destes dois grupos, os
habitantes pré-existentes e os turistas de passagem em alojamento local, é
notória. São totalmente antagónicas e geradoras de situações de conflito,
apercebendo-se o cidadão comum que as autoridades parecem favorecer, com um
certa condescendência e, por vezes até, paternalismo, os prevaricadores que não
cumprem o estabelecido por lei. Existe legislação sobre ruído e horários, mas
só os que não sentem a polícia como entidade opressora se atrevem a protestar,
telefonando e exigindo a presença das autoridades (que chega a demorar mais de
uma hora depois de chamada, ou nem aparece – estratégia de desmotivação?).
Acresce a estranheza da questão das coimas que deveriam ser aplicadas aos
prevaricadores, pois só são aplicadas, pasme-se, quando a mesma equipa de
agentes é chamada ao local da ocorrência uma segunda vez.
Não
sendo de “Leis”, embora não podendo alegar o seu desconhecimento, o autor deste
blogue interroga-se sobre a permissividade subjacente a toda esta questão por
parte das autoridades competentes, sobretudo as municipais.
Para
além do ruído, acresce o desgaste dos edifícios, sobretudo das áreas comuns,
caso das caixas de escada, elevadores e porta de entrada, que se degradam ou
avariam por uma utilização pouco cuidadosa.
A
recolha do lixo, que obedece, no caso do prédio que habito e do qual sou
coproprietário, a uma calendarização por parte dos moradores, não é cumprida
pelos que estão de passagem e que são os maiores produtores do dito, sobretudo
de vasilhame, que nem se dão ao trabalho de reciclar (existe um vidrão mesmo à
porta do prédio). Mas essas questões de civismo e ecologia são para a terra
deles, pois aqui podem fazer tudo o que lhes apetecer. Sim, começo a sentir-me
xenófobo, sobretudo em relação aos da Europa rica pseudo-civilizada e
pseudo-superior do centro e norte, que acham que na terra dos “pretos” (latinos
e africanos para eles são a mesma coisa), podem fazer o que querem. O problema grave
é que, pelos vistos, podem mesmo.
Várias
cidades europeias importantes têm levantado entraves ao sistema de airbnb, mas em Lisboa o município é cada vez mais flexível a esta questão,
pelo que a resistência vai ter de ficar do lado dos cidadãos.
A
hotelaria tradicional está ameaçada pelo alojamento local, mas alguma desta também
tem vindo a gerar situações de conflito desnecessárias e, até há bem pouco
tempo, inexistentes. Veja-se o caso da avenida Almirante Reis, onde partes das
passagens sob os edifícios deixaram de ser pedonais e acessíveis a qualquer transeunte.
Esse espaço de circulação pública foi ocupado por esplanadas de hotéis ou
outros estabelecimentos de restauração e afins, pelo que, faça sol ou faça
chuva, quem andar a pé tem de o fazer pelo passeio. O mesmo se passa noutras
zonas da cidade. Sob as arcadas do Terreiro do Paço a mim já me tentaram
impedir de passar. Cidade mais amigável e acessível sim, mas, nestes casos, apenas
para alguns.
O
respeito pelo cidadão é fundamental. Os que escolheram Lisboa para habitar,
independentemente da sua nacionalidade, têm de sentir que estão em primeiro
lugar nas opções e soluções políticas e só depois, melhoradas as condições de
habitação, acessibilidades e outras estruturas de apoio local, é que deverá
passar-se a olhar para as necessidades do visitante externo que, certamente, se
sentirá bem se encontrar uma população “indígena” satisfeita.
Face
a tudo isto, nos lisboetas cresce o sentimento de que estão a ser desapossados
daquilo que sempre foi seu por direito: o território, as ruas, os miradouros, as
vistas, os prédios, os monumentos, os cafés, os transportes públicos, a qualidade
da comida. E os preços continuam a subir, embora ainda acessíveis para os
turistas.
Não admira que surjam
este tipo de documentários propagandísticos