segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Espaço público: novo empedrado de passeios



Interrogo-me quanto ao papel futuro desta peça de mobiliário urbano que teima em anunciar os horários dos autocarros da Carris na Rua de Angola. Continua a haver alguns utentes menos atentos que esperam e desesperam quando os autocarros passam e não param.

Desde há muito que a paragem passou para a Rua Febo Moniz, alguns metros abaixo, e esta peça deveria tê-la acompanhado. Pensei que agora, com o novo calcetamento a calcário e granito (uma boa solução antiderrapante para planos de calçada mais inclinados) que está a acabar de ser feito (a fotografia é de hoje) o dito objecto seria retirado. Porém, tal não aconteceu, os calceteiros lá o contornaram pacientemente e ele ficou. Alguém na CML e/ou na Carris se esqueceu dele?

Aproveito para deixar a minha opinião sobre o que está a acontecer no espaço público.

Estou a favor das intervenções no espaço público que privilegiem o peão e o verde. Por isso, à partida, as obras que decorrem um pouco por toda a cidade agradam-me, pois deverão dar lugar a zonas mais arborizadas, mais agradáveis e amigáveis para todos. Só é pena que o calendário eleitoral obrigue ao atropelo de tudo quanto deveria ter sido tido em consideração. Lamento que se tenha começado pelo fim, porque a montante há muito a fazer primeiro, como seja, só a título de exemplo: melhoria das redes de metropolitano (um serviço que cumpre cada vez com menor qualidade o seu papel) e da Carris, de modo a incentivar o uso dos transportes públicos; a construção de parques de estacionamento na periferia, junto a interfaces de transportes públicos (mas não, insiste-se em construir no centro ou na frente ribeirinha, em zonas de cheia, de alto risco sísmico e/ou com condicionantes arqueológicas que tornam mais onerosas e demoradas as intervenções e acarretam a perda irreparável de património – veja-se o que aconteceu nas praças da Figueira, de Luís de Camões e do Município e agora está a acontecer no Campo das Cebolas. Tenho a certeza que à superfície, neste último caso, vai ficar melhor, mas a que custo?
O encerramento de antigas garagens, para dar lugar a novos projectos urbanísticos, e a manutenção de usos indevidos em pisos térreos e caves (ocupadas com supermercados, centos comerciais, outros tipo de comércio e mesmo igrejas de religiões duvidosas) projectados como garagens, também nada contribui para melhorar a situação. Há algum plano na CML que preveja a revisão destas situações? Estão todas legais?

Quanto à repavimentação de passeios no Bairro das Colónias, houve a preocupação de rebaixamento de lancis na passagem de peões da Rua do Forno do Tijolo, mas porque não foi feito o mesmo nas demais passadeiras na sequência dos passeios que foram agora intervencionados? 

domingo, 27 de novembro de 2016

Turismo de massas e airbnb: a praga


Empresas ligadas à venda ou aluguer de imobiliário, principalmente o tubarão Remax, tem vindo a apostar numa estratégia agressiva junto dos moradores em áreas centrais que, de repente, passaram a ser apetecíveis do ponto de vista turístico. É o caso do Bairro das Colónias onde o airbnb e outras formas de alojamento local passaram a estar presentes em muitos, cada vez mais, dos condomínios e prédios de rendimento.

A Remax, não satisfeita com uma primeira forma de pressão - a sistemática colocação de folhetos nas caixas de correio, interrogando se não estamos interessados em vender andares -, adoptou mais recentemente o mesmo estratagema de várias religiões (ou seitas duvidosas), o porta-a-porta.

Sim, não vos queremos aqui a viver. Sim, a periferia é excelente para habitar. Sim, os lares estão caros e estarão muito melhor por lá.

Percebemos demasiado bem que não nos querem a habitar no centro da cidade, esse é para os turistas que trazem dinheiro e fazem desenvolver a economia local a consumir typical cuisine (e todos sabemos que a gastronomia tradicional é diversificada: paellas congeladas; massa - disparate, pasta; hambúrgueres, pastel de bacalhau com queijo….), a passear de tuk-tuk, a viajar de eléctrico, (sobretudo o 28, o 12 ou o 15 - para nada verem e entupindo qualquer possibilidade dos nativos andarem neste transporte), ou a utilizar os elevadores (Santa Justa, Glória e Bica – o Lavra ainda se vai conseguindo). Nada contra, não fora a massificação e o excesso.

O airbnb tem vindo a contribuir para a destruturação das comunidades locais. As relações de vizinhança desaparecem e a desumanização do espaço urbano, antes de cooperação vicinal e intergeracional, transforma-se num território desolado onde impera a animação momentânea e ruidosa dos grupos que estão ali apenas para cumprir o ritual de se divertirem, fugindo às regras mais restritivas dos seus entediantes países de origem. Há sempre excepções, claro!

A incompatibilidade de horários e de expectativas destes dois grupos, os habitantes pré-existentes e os turistas de passagem em alojamento local, é notória. São totalmente antagónicas e geradoras de situações de conflito, apercebendo-se o cidadão comum que as autoridades parecem favorecer, com um certa condescendência e, por vezes até, paternalismo, os prevaricadores que não cumprem o estabelecido por lei. Existe legislação sobre ruído e horários, mas só os que não sentem a polícia como entidade opressora se atrevem a protestar, telefonando e exigindo a presença das autoridades (que chega a demorar mais de uma hora depois de chamada, ou nem aparece – estratégia de desmotivação?). Acresce a estranheza da questão das coimas que deveriam ser aplicadas aos prevaricadores, pois só são aplicadas, pasme-se, quando a mesma equipa de agentes é chamada ao local da ocorrência uma segunda vez.

Não sendo de “Leis”, embora não podendo alegar o seu desconhecimento, o autor deste blogue interroga-se sobre a permissividade subjacente a toda esta questão por parte das autoridades competentes, sobretudo as municipais.

Para além do ruído, acresce o desgaste dos edifícios, sobretudo das áreas comuns, caso das caixas de escada, elevadores e porta de entrada, que se degradam ou avariam por uma utilização pouco cuidadosa.

A recolha do lixo, que obedece, no caso do prédio que habito e do qual sou coproprietário, a uma calendarização por parte dos moradores, não é cumprida pelos que estão de passagem e que são os maiores produtores do dito, sobretudo de vasilhame, que nem se dão ao trabalho de reciclar (existe um vidrão mesmo à porta do prédio). Mas essas questões de civismo e ecologia são para a terra deles, pois aqui podem fazer tudo o que lhes apetecer. Sim, começo a sentir-me xenófobo, sobretudo em relação aos da Europa rica pseudo-civilizada e pseudo-superior do centro e norte, que acham que na terra dos “pretos” (latinos e africanos para eles são a mesma coisa), podem fazer o que querem. O problema grave é que, pelos vistos, podem mesmo.

Várias cidades europeias importantes têm levantado entraves ao sistema de airbnb, mas em Lisboa o município é cada vez mais flexível a esta questão, pelo que a resistência vai ter de ficar do lado dos cidadãos.

A hotelaria tradicional está ameaçada pelo alojamento local, mas alguma desta também tem vindo a gerar situações de conflito desnecessárias e, até há bem pouco tempo, inexistentes. Veja-se o caso da avenida Almirante Reis, onde partes das passagens sob os edifícios deixaram de ser pedonais e acessíveis a qualquer transeunte. Esse espaço de circulação pública foi ocupado por esplanadas de hotéis ou outros estabelecimentos de restauração e afins, pelo que, faça sol ou faça chuva, quem andar a pé tem de o fazer pelo passeio. O mesmo se passa noutras zonas da cidade. Sob as arcadas do Terreiro do Paço a mim já me tentaram impedir de passar. Cidade mais amigável e acessível sim, mas, nestes casos, apenas para alguns.

O respeito pelo cidadão é fundamental. Os que escolheram Lisboa para habitar, independentemente da sua nacionalidade, têm de sentir que estão em primeiro lugar nas opções e soluções políticas e só depois, melhoradas as condições de habitação, acessibilidades e outras estruturas de apoio local, é que deverá passar-se a olhar para as necessidades do visitante externo que, certamente, se sentirá bem se encontrar uma população “indígena” satisfeita.

Face a tudo isto, nos lisboetas cresce o sentimento de que estão a ser desapossados daquilo que sempre foi seu por direito: o território, as ruas, os miradouros, as vistas, os prédios, os monumentos, os cafés, os transportes públicos, a qualidade da comida. E os preços continuam a subir, embora ainda acessíveis para os turistas.

Não admira que surjam este tipo de documentários propagandísticos

domingo, 26 de junho de 2016

O Bairro das Colónias convertido em lixeira


Este o cenário matinal que encontrámos nesta gloriosa manhã dominical. Não estamos numa favela do Rio de Janeiro, nem em nenhum bairro degradado de outra cidade da América Latina, da África ou da Ásia. Estamos apenas na Rua do Zaire (lado norte), tornejando para a Rua de Angola, num dos bonitos e centrais bairros de Lisboa, capital de Portugal, Europa.

Qual encenação barroca, mostra a imundície que tomou conta do Bairro das Colónias, conspurcado por moradores javardos e falta de limpeza mais sistemática por parte das entidades competentes. Já ontem, sábado, estava assim, com tendência para agravar, como é natural em situações idênticas. Os contentores de reciclagem, enquanto receptáculos, não são despejados com a frequência requerida, pelo que este espectáculo é recorrente em vários locais.. 

Informaram-nos que quem aluga apartamentos a estudantes Erasmus ou outro tipo de alugueres de curta duração agora tão em moda, acaba por, saídos os “inquilinos”, deitar fora parte do recheio dada a má utilização que do mesmo foi feita, assim, sem mais nem menos, para a via pública. Não parece ter sido este o caso.

Aos muitos portugueses que mantêm o (mau) hábito de continuar a cuspir e a deitar lixo para o chão com o maior desprezo pela cidade e pelos demais, juntam-se os emigrantes que reproduzem costumes enraizados nos locais de origem. Se aos segundos se desculpa, porque provenientes de cenários de miséria e degradação, e por isso têm ainda de aprender novos hábitos de sociabilidade urbana, aos primeiros, muitos já não de primeira geração de migrantes da província, intrinsecamente camponeses na maneira de estar, já não há desculpa por não terem sido capazes de aprender as regras mínimas de civilidade.

Lembramo-nos de uma publicidade municipal da década de 90 do século passado (era vereador Rui Godinho) que mostrava um rosto de homem com focinho de porco. Reactivem-na, por favor. Ou não é politicamente correcto em relação aos suínos?


quarta-feira, 8 de junho de 2016


Depois de um longo silêncio, uma postagem nova para dar conhecimento de um trabalho académico sobre o Bairro das Colónias realizado por alunos do ISCTE, no âmbito de uma disciplina de Sociologia. 

Deu origem a uma pequena exposição feita com a colaboração da Junta de Freguesia de Arroios e está visitável desde hoje no Mercado do Forno do Tijolo, em princípio até ao final de Junho. Está prevista a sua itinerância posterior por outros mercados da freguesia referida.

Não esperem uma exposição espectacular, porque não o é, mas os alunos e a sua orientadora estão de parabéns por trazer a Academia para junto das populações. 

Salienta-se a interessante imagem gráfica do cartaz publicitário, que bem soube revisitar, inovando, uma linguagem visual muito art déco, como o é o próprio Bairro das Colónias.