sábado, 4 de fevereiro de 2012

Algumas curiosidades da Freguesia dos Anjos


O texto que hoje publicamos não é da nossa autoria e encontra-se em:

CML revista. Dezembro 2009 nº 74 Lisboa: Câmara Municipal – Direcção Municipal dos Recursos Humanos e Divisão de Comunicação e Imagem, Design Divisão de Comunicação e Imagem, págs. 14-15

 «Destacando-se da Freguesia de Santa Justa, surgia em 1553 a nova freguesia dos Anjos, orago de uma ermida existente junto ao regueirão. Era uma freguesia que se estendia por um vale, na base três colinas que se sucediam: Monte de S. Gens (Senhora do Monte), Monte Agudo e Penha de França. De características rurais, estava recheada de pequenas quintas e casas agrícolas, beneficiando de um regueirão alimentado pelos Arroios que existiam um pouco mais acima e pela água das nascentes das Fontaínhas (cerca de onde hoje é o Largo de Santa Bárbara). Aí, uma área inundada deu origem ao topónimo da Charca. A Azinhaga da Charca subi as encostas até Sapadores (pelo que é hoje a Rua Angelina Vidal, em homenagem à jornalista e publicista republicana), cruzando-se com o Caminho do Forno do Tijolo, primeiro, e o caminho do Monte Agudo (actual Heliodoro Salgado, outro jornalista republicano), que ligava à Penha de França.
Quando, na última década do século XIX, se começou a rasgar a Avenida Rainha D. Amélia (actual Almirante Reis) a partir da Rua da Palma, um proprietário de terrenos da zona, Manuel Gonçalves Pereira de Andrade, fundou uma urbanização (hoje Bairro Andrade, acima do local onde o Regueirão dos Anjos cruzava a Avenida, confinando com a Mouraria (Intendente e Olarias) e chegando quase à Charca. O bairro ostenta topónimos de senhoras da família do fundador, como é o caso das Ruas Andrade, Maria, Maria Andrade e Palmira e localiza-se na base do monte de S. Gens, entre as actuais Ruas Maria da Fonte e Forno do Tijolo e a Avenida.
Neste bairro, num pequeno largo junto à Avenida, encaixada no Jardim António Feijó, está a actual Igreja dos Anjos, de 1911, que substituiu a anterior (que se erguera no local da antiga ermida no século XVIII e fora reconstruída em 1758, após o terramoto), derrubada quando da abertura da Avenida. Deve-se ao traço de José Luís Monteiro, em puro estilo clássico, e alberga duas notáveis obras de arte do século XVI, que talvez já tenham pertencido à ermida: uma imagem de Nossa Senhora da Conceição e uma das primeiras telas retratando Santo António.
Um pouco mais acima da Charca, na base da Penha de França, um outro proprietário de terrenos no local, o comerciante Brás Simões, decidiu-se a construir também o seu bairro, durante as duas primeiras décadas do século XX. O início das obras foi acidentado, com prédios a colapsarem ainda durante a sua construção, o que levou à alteração das técnicas construtivas. Inicialmente chamado Bairro Brás Simões, mudaria de nome por conveniência política nos tempos finais da I Grade Guerra, em que Portugal se envolvera em 1916: tomou o nome de Bairro de Inglaterra, em homenagem à nação aliada (pela mesma altura, outro bairro mais oriental, o Bairro da América, junto ao Vale de Santo António, colhia o nome de outro aliado). As suas ruas levam nomes de cidades e de poetas ingleses.
Finalmente, na zona deixada livre junto à Charca, entre um e outro dos referidos bairros, o Município tomou a iniciativa de lotear uma nova urbanização, na base do Monte Agudo e cujo traçado sacrificou a Azinhaga da Charca e o Caminho do Forno do Tijolo (os vestígios deste último topónimo estão na actual designação da Rua do Forno do Tijolo e numa chaminé remanescente do antigo forno). Apresenta edifícios seriados em estilo pós Arte Nova, construídos ao longo dos anos 20, (sic) e outros mais recentes, em estilo Arte (sic) Déco e modernista, cuja edificação se prolongou até finais dos anos quarenta. Recebeu o nome de Bairro das Colónias em consonância com o espírito de celebração nacionalista que então se vivia. Assim, as suas ruas receberam nomes como Guiné, Zaire, Angola, Macau, Timor, Moçambique ou Cabo Verde.
No topo do Bairro das Colónias, uma praça (actual Praça das Novas Nações) junto à encosta do Monte Agudo, acolheu uma escola primária camarária que concilia os estilos “neo-casa portuguesa” (sic) e modernista e um jardim que celebrava o Império, ostentando os escudos com os brasões das então “províncias ultramarinas” um flores e plantas laboriosamente jardinadas pelo pessoal municipal.»


Sem nos debruçarmos muito sobre o conteúdo total do texto publicado, visto o nosso foco de interesse ser o Bairro das Colónias, os sic que acrescentámos ao mesmo servem apenas para chamar a atenção para a falta de rigor científico do que nele se escreve. Já agora, pena que a última frase não seja verdadeira de há muitos anos a esta parte. Sem mais comentários.