segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Origem do Bairro das Colónias


Hoje publicamos um texto do olisipógrafo Francisco Santana, publicado In InforAnjos – Ano 10, nº 2 Maio-Agosto 2002 (Revista da Junta de Freguesia dos Anjos), sobre a origem do nosso bairro.




«Bairro das Colónias. Este bairro, “com suas ruas que evocam as nossas províncias ultramarinas”, diz Norberto de Araújo (Peregrinações em Lisboa, VIII), em finais da década de 30, que “é muito recente, pois não leva mais de dez anos”, desta cronologia não discrepa Maria da Luz Mouta (Os Anjos – Freguesia de Lisboa) que em 1958 afirma situar-se a construção do bairro “dentro dos últimos trinta anos”. De facto, em 1920.02.23 é ainda em termos de futuro que no Diário de Notícias se fala no aproveitamento dos “terrenos ainda livres das Quintas da Mineira e da Charca” e da ligação entre os bairros Andrade e de Inglaterra. O mesmo jornal, em 1923.03.07, insere um texto que parece resvalar da informação para a Publicidade paga. Tem como título “Está sendo construído o Bairro das Colónias”, é acompanhado por uma planta e revela o pormenor curioso de que inicialmente estava previsto que os arruamentos ostentassem não os nomes dos territórios ultramarinos mas os de “vários colonialistas ilustres” (o que veio a verificar-se posteriormente em zona a NE desta). Respiguemos do texto mencionado algumas passagens: “Durante muitos anos, já depois de construídos e edificados os bairros Andrade e de Inglaterra, quem precisasse de passar de um para outro, via-se obrigado a dar grandes voltas, visto não existir, entre eles, uma ligação rápida. Entre os dois bairros existiam as antigas quintas da Forca, Mineira e Charca, ocupando uma área aproximada de 75.000 metros quadrados (…). É nessas antigas que está agora sendo construído o Bairro das Colónias com o antigo Caminho do Forno do Tijolo, que desaparecerá (…). A situação do bairro das mais salubres de Lisboa (…). A circunstância do bairro ser estabelecido nos terrenos livres mais próximos do centro da cidade, concorrerá para, em breve, estar completamente edificado (…). O Bairro das Colónias deve ficar concluído possivelmente ainda este ano (…).” Outro texto, de índole próxima à do anterior, surge em 1933.07.13 nas páginas do Diário de Notícias. Destaque-se; “O Bairro das Colónias (…) será um bairro elegante dentro em poucos meses (…). Todo o bom alfacinha era obrigado a conhecer as quintas do Mineiro e quinta nova da Charca, que ficavam ali, para os lados da Avenida Almirante Reis, e confinavam com o Caminho do Forno do Tijolo. Todos esses terrenos pertenceram a Leitão da Silva e, por último ao sr. João Duarte”. Refira-se a propósito que uma planta de 1921 dá João Duarte como proprietário dos terrenos onde se abririam as (pág. 3) ruas do bairro e designa a propriedade como Quinta do Leite, ainda que por hipótese seja Quinta do Leitão, esta designação não deixa de contribuir para agravar uma já razoável confusão toponímica. Continuemos o rabisco de algumas informações: João Duarte “iniciou a venda dos terrenos, construção das ruas, canalização, passeios, etc.”; “Os construtores do bairro são mais de 30”, “Quando, há cerca de 2 anos, as enxadas dos cavadores começaram a romper as ruas interrompidas, havia anos, entre os bairros de Inglaterra e Andrade” isso originou “desaparecimento da antiga quinta da Mineira, mais conhecida do vulgo pela Charca”. Termina-se com passagens de entrevista feita pelo jornalista ao engenheiro Pinto de Oliveira sócio da Havaneza do Socorro, Lda., promotora da venda dos terrenos: “-Ora, diga-me V. Exa.: de quem partiu a ideia da construção do Bairro das Colónias? Para lhe falar com a maior franqueza, não sei ao certo; mas presumo que tão esplêndido empreendimento partiu do sr. João Duarte, um dos proprietários da antiga quinta da Mineira, ou Charca, no que foi desde logo secundado pelas importantes firmas Roxo & Cª. e Neves & Ribeiro, que, numa colaboração digna de todos os elogios, conseguiram construir, rapidamente, os arruamentos, passeios e esgotos, de modo a permitir a construção das inúmeras casas que já compõem o Bairro. E pode dizer-me a área total do terreno inicialmente destinado à construção? Cerca de cinquenta mil metros quadrados, salvo erro, se bem que a área das quintas, antes das ruas feitas (…) devia ser de setenta mil metros quadrados aproximadamente.” (pág. 4)».


3 comentários:

  1. Tomei a liberdade de roubar aquela fotografia do prédio de Cassiano Branco (1936, Rua Palmira, 33).....que irá aparecer na nossa página sobre o arquitecto.

    http://fotos.sapo.pt/cassiano/perfil

    cumprimentos

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  2. Caro Júlio Amorim,
    Em primeiro lugar obrigado pela visita. Quanto ao uso das fotografias, só agradecemos que publique a fonte. :)
    Bom trabalho
    Cumprimentos

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